i
o ano três mil xizentos e xizenta e xis.
lá em cima, pisando com longas pernas sobre o cadáver de são paulo, ergue-se nova são paulo, uma megaestrutura de proporções indescritíveis em termos pré-século trinta, cercada por bilhares de metros de concreto duro e chumbo grosso em todas as direções, a fim de evitar o contato com a eterna garoa ácida que encobre o estado há mais de um século.
lá dentro, a meganação tecnológica dos eleitos da são paulo post mortem sobrevive ao apocalipse num paraíso artificial dotado de fartura e riqueza.
ii
aqui embaixo, na antiga são paulo, os descendentes dos rejeitados vivem imersos no que só pode ser descrito como in the shit (na merda).
em meio aos escombros, lá vai cl!o, líder dos cães de briga dos galerosos de são terabyte (como é chamado o pack de soldiers da cidade de galeria de são terabyte) numa investida surpresa contra o cyber-hospital das neuro-clínicas: peça-chave na eterna guerra entre as cidades-estado daqui de baixo, último pólo tecnológico nesse merdeiro.
na cestinha de sua ur-bike (um veículo composto por um par de rodas movido por um pedals-and-chain system), uma coleção de peta-weapons (artigos promotores de violence) de diversas aplicabilidades se dispõe às suas mãos. com o canto do eyeball (olhobolas), ela identifica um mercenário atrás de uma nitro-moita e dispara um tiro na cabeça (crânio encapado) dele.
o quebra-cabeça da anatomia de um segundo capanga é desmontado da pelve para cima, e as peças são lançadas aos quatro ventos podres dessa cidade perdida.
uma pico-granada abre uma tsunami (uma bossa supernova) energética entre mais dois lazarentos imbecis, arrastando cada molécula de seus corpos até o fim do mundo; suas vidas vagabundas agora meros mosquitoes esmagados contra o windshield (o para-brisas) da vingança.
o som das centenas de dentes da sua megasaw arruinando, a milhões de beats per minute, o pescoço energúmeno de um último desgraçado agita fundamentalmente o espírito de cl!o, se é que os corpos não desaprenderam a nascer com espírito nessa puta dessa terra.
mais atrás, num motherfusca (uma forma de locomoção ancestral) cor-de-tela-azul, suas irmãs trazem a peça-chave da missão: a cabeça decapitated de sua mãe.
a matilha furiosa, como são chamados os cães de briga dos galerosos de são terabyte, abre caminho pelo exército privado dos estacionamenters, uma gigafacção espalhada pela são paulo de outrora.
no calor do momento, cl!o dispara uma generosa dose de megadroga cibernética direto na têmpora. a violência, a fome de vingança e a sede de comida se misturam numa cosquinha prazerosa.
iii
galeria de são terabyte é uma cidade-estado dentro da porkery (uma kind of porcaria) que restou da velha são paulo.
como é localizada onde só se pode supor que fica perto do cu (um tipo de anus) do inferno, não é raro irem para lá os chamados neozombies — seres humanos amnésicos com a profundida psíquica de uma cucaracha (a species of cockroaches) que reagem somente a inputs.
você pode quebrar o nariz de um neozombie com uma nitro-soco-inglesada direto na boca. ele pode gritar, chorar e estrebuchar, mas vai se levantar e te cumprimentar como se estivessem se encontrando pela primeira vez. geral aqui de baixo se aproveita dessa particularidade dos neozombies, inclusive de formas muito worse (piores), para descontar os quase dois séculos de burrice e fúria promovidos pelo exílio. damn!
iv
momentos de uma semana before emergem do cérebro limitado de cl!o:
ela expele uma densa fumaça de cyberdrogas. hash.tag, e_mo(ji) e soda-pop, três de suas oito irmãs, entram no big office (quartel general) da brigada, como é chamada a matilha furiosa. elas trazem consigo um irado magnata influente no submundo underground de estacionamento, a cidade-estado granular comandada pelos estacionamenters.
nessa fucking shit sã paula daqui de baixo, clãs & facções em constante disputa compõem a triste paródia de society que restou nessa macrossarjeta.
distribuídos por todo o megaterritório da garoa ácida (um círculo de alguns gigâmetros para além dos limites da são paulo do ano 2999), esses povoados humanos enchem suas bocas para se exaltarem, suas carabinas para se destruírem e tradicionalmente ocupam estruturas milenares deixadas pelos nossos antepassados.
kilowattson bassline é o nome do smooth criminal capturado.
ele é um cara muito ruim, bad news (má notícia), e por isso não faz mal violar tanto os direitos quanto os esquerdos humanos nele. até porque esses conceitos já se perderam como penteglios na dentadura de um vecchio safado. awww!
sob uma bitch de uma ultratorture (coerção forçada), esse verme de bosta conta tudo o que os estacionamenters descobriram infiltrando são paulo returns nas últimas décadas.
(na verdade ninguém teria saco para ouvir um cara desse falando. risque isso. ele não conta nada, ele cyberprojeta forçadamente suas memórias numa simulation coletiva que explica como os estacionamenters subiram ao top da pyramid de poder (o power) daqui de baixo.
a simulazione é projetada num óculos hi-tech alucinante, facilmente imaginável no background pós-apocalyptic da narrativa.
cl!o adentra a psyche de kilowattson bassline. dentro da sua merda de crânio, o cérebro é um mero sublocatário do espaço. o verdadeiro comandante de suas actions é um avançadíssimo cybercérebro 4.9, hackeado e irrastreável pelo governo de sões paulos.)
v
após o the end da são paulo roots, são paulo kart 3 foi construída pelo conglomerado de empresas favorito da antiga pseudo-prefeitura, que abraçou a demanda de abrigar com assertiveness os massacrados pela peste, pela guerra e pela garoa ácida. contudo, os novos cidadãos foram escolhidos a dedo entre os sobreviventes.
determinou-se que iriam a bordo dessa neoarca de neonoé somente aqueles que fossem compatíveis com cybercérebros (nunca foi divulgado como essa compatibilidade pode ser averiguada), uma espécie de neurocomputador no formato de uma garrafa caçulinha.
lá em cima, um nenê normal já sai da maternity com 92% do cérebro substituído por finas e capazes placas e chips de biotechnology, que gerenciam suas funções corporais e faculdades mentais um bilhão de vezes melhor do que o catarro ancestral que chamamos de brain (um cérebro).
a finesse desse cérebro 2 é tanta que as pessoas não dispõem informações linearmente do jeito estou fazendo aqui. entregar ou absorver um fio de acontecimentos de uma em uma palavra é tão absurdo quanto comer um hambúrguer começando pelos sesame seeds, depois seguir pelas moléculas de bread, e então os átomos do cheese, o sauce, o lettuce e, por fim, o the meat.
o cybercérebro é o último órgão receptor e perceptor de happiness (não temos palavras para isso na língua-chã) debaixo da garoa ácida.
os scientisters de são paulo remix batizaram de fuck o ácido luminoso verde-marca-texto que cai do céu desde tempos imemoriais. sua origem? trilhões de cpus, gpus, tattoos, iptus e alcaçuz; arcaicos, materialmente estressados ao ponto da liquefação, babando chão abaixo pelas frestas e gretas da são paulo fora de moda. toda essa informação, essa raiva, essa saudade maculando para sempre, e com tudo, as últimas reservas d’água daqui de baixo. fuck!!
estamos talking about um ácido perigosíssimo. não pela sua acidez, mas porque tem a propriedade irritante de irradiar a ocasional microonda inversora de bits — ou fuckon.
aqui embaixo, na são paulo old skool, essa partícula passa despercebida: nosso maquinário é estúpido, reduzido e escrotaço. porém, em the next são paulo, a troca de um zero por um anti-zero (ou um um) é catastrófica.
imagine todo o seu dna decodificado e enterrado numa bioplaca inteligente. no momento em que um desses componentes sofre o menor totó, todo o dominó genético vai junto.
se você tem um cybercérebro ligado e funcional, pode morrer bem onde está se for atingido por uma gota de garoa ácida: seja porque o seu sangue desaprende a voltar para o coração e decide sair pelo olho, ou porque seu sistema imunológico desenvolve alergia ao seu cu e explode.
a razão pela qual o cyber-c (como é conhecido o cybercérebro) penetra tão fundo na humanidade de seus portadores é a seguinte:
o megaconglomerado de são paulo and knuckles sabia que traumas impactam negativamente na productivity de um funcionário. a resposta para a questão da improdutividade no pós-apocalipse foi simples: criou-se um system capaz de isolar informações causadoras e derivadas de traumas, livrando o indivíduo de perder capital pessoal por inaptidão no labor (labor).
imagine poder ir ao enterro da vaca da sua mãe hoje e conseguir entrar na enterprise amanhã cedo para debulhar data com a mesma empolgação do primeiro dia? hell, yeah!
os scientisters programaram tantos updates de melhoria do Algoritmo que ele trata qualquer emoção como se fosse trauma. o grande bug, ou melhor, feature disso tudo é que memórias dependem de emoções para nascerem. se o cabra para de viver emotions, o cabra para de lembrar da vida.
com isso, os funcionários se tornaram machines de trabalho. a produtividade aumentou brutalmente e são paulo advance começou a crescer de dentro para fora, tomando mais e mais áreas.
foi assim que se apresentou a opportunity dos estacionamenters firmarem relações comerciais com o governo cibernético de são pauler — ou melhor, com seus poderosos mais corrupters.
onde quer que haja uma obra de expansão da são paulo nouveau, há também uma falha em sua estrutura por onde os workers workam. construtores. engenheiros. equipes de security. nesses pontos abertos, os estacionamenters conseguiram abordar os mandantes das operações e fazer o seguinte business:
eles lá de cima recebem prazeres carnais imbecis como sexo extremo, violência ímpar, cyberdrogas: coisas que só existem aqui embaixo. em troca, eles enviam seus cidadãos de segunda classe para o cyber-hospital das neuro-clínicas — depois de desligar seus cybercérebros e deletá-los da memória coletiva via manipulação do Algoritmo.
no cyber-hc, esses cybercérebros são enxertados junto aos cérebros dos mais ricos daqui de baixo, que sobem para a são paulo foda e vivem uma vida de plenitude e segurança, ainda retendo suas memórias via hacks executados pela equipe médica.
contudo, tantos cidadãos de segunda classe foram enviados aqui para baixo que ficou impossível dar futuro para todos, e agora eles vagam pela merda dessa são paulo retrocompatível com seus cybercérebros desligados. neozombies.
é assim que se ascende ao the peak de uma terra cuzuda como a nossa. através de safadeza, crueldade y fodeção de liga-se. eu diria desumanização, mas teria que ter sobrado humans sobre a crosta terrestre. estamos forçosa e definitivamente vaccinated contra isso.
enfim: bassline não aguenta mais nada da tortura. goza forte, se caga inteiro e morre.
what a mess!
vi
mais tarde um pouco. de night.
galeria de são terabyte fica num prédio côncavo onde seus moradores dividem espaço com armamento pesado e um museu de artefatos do passado. http://, o líder-ancião, é o último alfabetizado da são paulo fudida.
o cultivo da história pré-virada do milênio, antes da the best são paulo ser elevada, depende unicamente desse velho pathetic e fraco, que torrou na arte de decodificar caligrafias centenas de horas de treino em técnicas úteis como soco forte, tiro certeiro ou sex (sexo).
(claro, sexo não ajuda em muita coisa quando não se tem futuro — mas a forza com que se esporra aqui embaixo é de outro mundo. deve ser porque não existe futuro.)
http:// cuida harmoniosamente de um museu de coisas que catou entre as ruínas daqui de baixo e no momento, ao redor da holofogueira, preenche o silêncio da garoa ácida enquanto tenta silenciar o barulho da fome com a dose diária de historiografia que ele tragou do cigarro paterno. para que a chama da truth permaneça ascended. ele versa nostálgico sobre os lugares destruídos da são paulo de centenas d’antes. o que se perdeu na guerra, na fome, na ignorância, na breakdance corporativa.
chega a hora do informe das forças amadas (como é conhecida a brigada). cl!o entra no chat e repete para os caras o que aprendeu com kilowattson bassline, agora uma mortandela ensebada presa a uma cybercadeira no big office.
a reunião é interrompida por um incêndio no andar de baixo, no museu de http://. chegam uns trezentos soldados de estacionamento armados e matam uma galera. mas aí a galera não deixa barato e mata eles de volta. sangue, blood and sangre voam por toda parte. cl!o e a maioria das armys (como referem-se às forças amadas) sobrevivem.
conforme esperado, não obstante infelizmente, http:// morre. a mãe de cl!o também, com um tiro no sovaco. e mais um na cabeça.
vii
como num superfilme trágico, cl!o descobre que não sabe chorar no momento em que se debruça sobre o cadáver de sua mutter. sua mom era muito mais que sua madre: era oka-san de suas irmãs também. uma faísca escapa do buraco de bala aberto na testa materna. what the fuck?
cl!o junta as peças do quebra-capuzzle. como sua mãe nunca a tratou como filha, nem era capaz de se lembrar do nome de suas irmãs, tampouco cumprimentava um vizinho como um vizinho ou um cyberpadeiro como alguém que faz chips de computador doce.
é porque ela era um neozombie, dona de um cybercérebro desligado — agora para sempre, graças aos criminosos de estacionamento em conluio com os ladri de são paulona.
no seu motherfucking âmago filho da puter, a ideia de destruir new são paulo eclode com força total.
viii
de volta ao present (o now).
já dentro do cyber-hospital das neuro-clínicas, cl!o, suas irmãs e a cabeçorra de sua mater rendem, matam, mordem, deletam, cortam, deszipam, downloadeiam e downgradeam todos os que aparecem pela frente. uma chuva de gosma nojentona acompanha seus passos.
apavorada, a equipe médica não vê escolha senão seguir a ordem dada pela tropa do mal, que é como são chamada as armys: implantar junto ao cérebro de cl!o o cybercérebro de sua mãe, de modos que ela consiga decodificar as memórias contidas nele.
algum médico tenta argumentar alguma bobagem, mas é levantado pelo saco e arremessado do catôrzimo andar. it’s showtime, motherfucker!
ix
tudo começa com um neuroserrote que destampa a calavera do patient (paciente). em seguida, os médicos dão umas mãozadas no célebro que encontram lá dentro para abrir espaço e, por fim, parafusam o cybercérebro na parede da caixa de cálcio. daí um novelo de fios ultratecnológicos é carregado por nanorrobôs por dentro das veias e nervos do paciente, conectando o cyber-c a todas as suas terminações nervosas.
depois de vinte horas sem anestesia porque o anestesista voou pela janela, a cirurgia é um sucesso. os médicos explicam que o cybercérebro só voltará a funcionar dentro da são paulo voadora — onde cl!o poderá visitar as memórias contidas nele.
a líder da gangue, como é conhecida a tropa do mal, mata uns três médicos por prazer e sai sem pagar.
x
quilômetros acima, hash.tag observa um rombo no invólucro de são paulo redux, onde trabalhadores braçais comandam guindastes aracnídeos na expansão da terrível cidade, todos portando trajes à prova da garoa ácida.
a corja (como é conhecida a gangue) escala as pilastras que mantêm a supra-cidade nos ares e dispara contra todo mundo, fazendo chover corpos desempregados sobre o cyber-hc. juntas, cl!o e suas irmãs entram no inferno celeste da são paulo turbo.
xi
mal dão três passos dentro da megaestrutura quando o recém-implantado cybercérebro de cl!o reboota na presença do Algoritmo. as memórias sequestradas de sua mãe agora misturam-se às suas próprias.
um sonho molhado freudiano se descortina para ela, que assiste ao momento de sua própria concepção: sua mère e seu père suados e gritando num escritório fechado. acrescente a essas imagens a fidelidade com que o cybercérebro consegue reconstituir os pormenores sensoriais de uma lembrança e temos em mãos o pior dia da vida de cl!o. é isso que se ganha ao acessar memórias que deveriam ficar para sempre trancadas no sistema nervioso dos outros.
quando essa porção da memory finalmente chega ao fim (e ela demora), cl!o vê sua mãe passando por mais e mais sinais de gravidez ao longo de semanas. numa manhã, ela, que ocupava um cargo prestigioso na enterprise, procura seu chefe, o ceo-rei do departamento de informática de são paulo tokyo.
— senhor.
— ?
— o nenê é seu.
— foda-se.
alguns homens descem o cacete na grávida e a carregam lá para baixo, para ser uma cabeça-oca (como eles se referem aos pobretões que se tornam fornecedores de cybercérebros na são paulo antiqua).
antes que cl!o possa se indignar com o que está vendo, uma pain (un dolor) pontiaguda traz seus olhos de volta para o presente: ela e suas irmãs foram cercadas e estão recebendo chumbo grosso do fino das forças policiais da são paulo reborn. os malditos dos médicos do cyber-hc mantiveram intactas as funções localizadoras do cybercérebro. se isso foi uma armadilha para elas ou mero deslize, cl!o não viverá para discover. armas em punho, a garotada (como é conhecida a corja) se ajeita para dar o troco em balas pela vida de sua mãe.
xii
são paulo reskin, em muitos aspectos, se assemelha à galeria de são terabyte: as duas são um baralho de ferro e portas cheias de gente desmiolada. só que, aqui em up, em vez de pichações obscenas feitas com fluidos corporais, tudo são pixels projetando imagens de um mundo que com certeza já não existia há mil anos. contra um telão mostrando uma praia pink com dezenas de cabeças de gado passeando livremente, cl!o segura um ferimento de bala enquanto cria outros ferimentos semelhantes nos corpos de seus algozes.
um pouco restituída do impacto de se encontrar num fogo cruzado, cl!o nota um pensamento que todo mundo aqui já teve passeando na sua cabeza: “caralho, eu devia ir lá matar o meu pai”. com um assobio, suas hermanas a seguem pelos corredores chumbregas da são paulo das alturas rumo ao escritório em que seus pais trabalhavam together, para onde o cybercérebro ainda lembra do caminho.
a surpresa no rosto os moradores da city ao verem as chiquititas (como é conhecida a garotada) correndo pelas esquinas luminosas enquanto disparam contra a police não dura nem um segundo — o Algoritmo imediatamente restabelece níveis normais de susto nas suas tubulações orgânicas, e é como se nada estivesse acontecendo.
a senha que o cyber-c materno tinha guardada não funciona na entrada do departamento de informática. felizmente, todo minifoguete nasce sabendo abrir portas. cl!o assassina meia dúzia de lerdos engravatados e entra na sala de “trabalho” de seu pai.
xiii
outro minifoguete de pronto encontra o ceo-rei, que mal teve tempo de notar a presença da própria filha. seu rosto, obviamente, desmonta. o projétil não dá o service (o serviço) por encerrado e continua firme na trajetória até detonar atrás da escrivaninha (a desk).
a parede grossa de são power é muito boa em impedir a entrada de garoa ácida, mas muito pouco indicada para resistir à explosion de um missile. depois de séculos batendo contra a pedra dura, a garoa mole acha o caminho para dentro da cidade.
cl!o, que já não estava muito good por conta dos sete buracos de bullet distribuídos pelo seu perímetro, imediatamente sente os efeitos dos fuckons do ácido fuck. o cybercérebro de sua mãe começa a dar altas panes, e sua imaginação se transforma num redemoinho de imágenes tão arcaicas que poderiam muito bem estar entaladas no próprio dna compartilhado entre mãe e filha. um fio de lembranças novas emerge.
ela mesma, quando baby. suas irmãs. são paulo antiga. sanduíche de tijolo com merda. as aulas de history de http://. os homens da galeria de são terabyte. a mãe nunca parou de colecionar a vida, mesmo com o cybercérebro desativado.
no fundo do turbilhão de registros, um desejo cristalizado: que meus irmãos lá de cima soubessem o que fiquei sabendo.
já sem conseguir produzir sons, cl!o sinaliza para que as irmãs a levem dois andares abaixo, no servidor central do Algoritmo. nos braços do resto das primas (que é como são conhecidas as chiquititas), ela é carregada até um terminal onde pode usar seus últimos segundos de vida para incrementar a memória coletiva dos paulistanos dos céus.
atrás de cada par de olho da cidade, desde os leaders dos departamentos até os cidadãos bucha-de-canhão que serviriam de moeda de troca para que os poderosos continuassem chafurdando em carnalidade, cl!o planta a verdade sobre o world, zelosamente guardada por http:// e transmitida pelo cybercérebro de sua mãe. para que cada cidadão possa se revoltar e saber em que direção seguir uma vez que todos os malditos ceos estejam com o origami dos órgãos completamente desdobrado — em direção à uma são paulo definitiva, do pretérito perfeito quase perdido.
a são paulo do paris 6. das enchentes. do madero. do icegurt. do cocobambu. do beach tennis. da estátua do borba gato. de andar pelado de bike. de padaria com catraca. das incorporadoras socando trezentos prédios na mesma quadra. das obras que acontecem de madrugada. das smartfits embaixo desses prédios. dos mercados oxxo do lado das smartfits. do pão de açúcar. do habib's. da cocaína. da virada cultural. dos postes cheios de cabo feio pendurado parecendo uma selva de cipó preto. da fumaça. das distâncias. da pipoca doce sabor groselha. dos poetas de rua e suas obras. do cineminha pretensioso. das livrarias com café dentro. dos cafés com uma estante de livro dentro. do hambúrguer a cinquenta reais. do jeep renegade. do linkedin. do fogo de chão. do açaí cheio de leite condensado. da galerinha do cross. de correr 5k de noite. do chá de revelação. do villa country. do fasano. da brejinha no rooftop. dos sapatênis. dos muleke. do phonk. de mandar foguinho no instagram. da chikungunya. do ibira. do cinema de shopping com todas as salas passando só filme de boneco. dos mendigos cabeça. da cornetinha da linha amarela. do carro largado na rua cheio de picho. do center 3. do cuscuz. do cara que destrava xbox. das promoções do peixe urbano. de congonhas. dos crente. de fumar maconha na praça do pôr-do-sol. da qualidade do ar muito ruim. da leptospirose. dos pobrema. da cracolândia. da praia do tietê. do fran's café. do festival caro e cheio de ativação de marca. dos caras fazendo rap no metrô. do trem que fica parado lá no meio do túnel. da praça da sé. de osasco. de deus. são paulo.
esta merda me fez mind cum (mentegozar). meus sensores de visão ficaram salgados com o último paragraph. a cidade mais fodida do brasil, amo 540 P45L0
Caralho!!! Do nothing Silva João é um bitch escritor!! Fiquei no edge of my assento o entire tempo! Foda demais a novilíngua, muito awesome!